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Juíza oradora da 10ª turma de magistrados do TJAP defende conhecer o Rio Amazonas como direito fundamental em seu discurso de posse

Publicada em 06/07/23 às 12:41h - 112 visualizações

por JudiciRádio


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 (Foto: JudiciRádio)

“(...) quero agradecer imensamente à generosidade do povo amapaense que, desde o primeiro dia, nos recebeu como só uma mãe recebe um filho que volta para casa. Sem nunca antes ter pisado aqui, me senti voltando pra casa”, declarou a juíza Sara Gabriela Zolandek, paranaense de 33 anos, primeira colocada e oradora da turma de magistrados aprovados do 10º Concurso Público de Provas e Títulos para o Cargo de Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do Estado do Amapá (TJAP).

Em sua fala, proferida no último dia 30 de junho, durante a Sessão Solene de Posse (confira a matéria aqui e assista a cerimônia na íntegra aqui), a juíza também ressaltou valores como a pluralidade e a humildade diante das futuras gerações, da natureza e das pessoas que contribuíram para sua conquista.

Abaixo, leia o discurso da magistrada:

“De antemão, devo esclarecer que as palavras que se seguem não minimizam os esforços individuais e os caminhos pessoais pavimentados para que chegássemos até aqui.

Mas ao creditarmos a aprovação e a posse, que hoje ocorre, apenas à disciplina, foco e vontade de cada um, não apenas incorremos em uma inverdade, mas também nos esquecemos de agradecer a quem está aqui (e às dezenas de outras pessoas que estiverem conosco nas batalhas da vida), por construírem as circunstâncias ideais na concretização de nosso projetos de vida.

A vontade, o sonho, o desejo de sermos magistrados e magistradas não nasceu conosco, foi antes uma construção das condições fáticas que nos permitiram vislumbrar a possibilidade de exercer o ofício, nos fizeram acreditar que era um projeto possível e que seríamos bons profissionais. Alguns com maiores percalços materiais (ou emocionais), é verdade.

O fato é que, por maiores desafios que tenhamos enfrentado, as circunstâncias pessoais (família, amigos, educação, relações, enfim) nos permitiram alcançar a profissão que escolhemos. E essas condições são obra do acaso. Não são fruto de habilidades especiais de que somos dotados. Não temos mérito nisso.

É por essa razão que, ao nos depararmos no cotidiano com as mazelas humanas (e elas serão muitas e de toda sorte), não devemos esquecer que o mundo que nos circunda é variado, que ninguém tem as mesmas experiências na vida e, mais do que isso, as pessoas não encaram suas vicissitudes com as mesmas reações, porque o ser humano é, em si, complexo.

É complexa também a profissão que, a partir de hoje, exerceremos, e é por isso que devemos exercitar, dia a dia, um olhar fora de si, que considere as múltiplas formas de viver, os diversos projetos pessoais de vida, a diversidade cultural, social e individual.

Isso não é abstração ou jogo de palavras, é imposição da constituição Federal que, propositiva, impõe a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que respeite todas as formas de ser e viver. E é dela que somos, agora, guardiões.

É a concretização dos ideais constitucionais que deve ser nosso Norte. E ela nos conduz não apenas a um olhar sensível às pessoas, mas também à necessidade premente de redução das desigualdades sociais e regionais.

Essa última consideração é especialmente importante porque quase a totalidade dos colegas que hoje tomam posse é composta por pessoas que nasceram e vieram dos mais variados cantos do país, do sul, ao sudeste, do centro oeste ao norte e nordeste. Para a maioria, a primeira fase do concurso foi também a primeira vez em terras amapaenses.

E o estado do Amapá é emblemático na federação, por diversas razões. É um estado recente, pequeno em população. Mas é gigante em natureza. Tem mais de 60% do território composto por unidades de conservação e terras indígenas. Abriga parte da maior floresta tropical do mundo e é onde deságua o maior rio do planeta.

Costumo brincar que a visita, pelo menos uma vez na vida, ao rio Amazonas deveria constar do rol do art. 5 da Constituição, só assim sentimos o verdadeiro significado de sermos brasileiros.

Em janeiro de 2022, ao ver o rio Amazonas pela primeira vez, duas palavras me vieram à mente: respeito e humildade. E elas são especialmente importantes hoje.

Humildade, porque diante da natureza, somos nada. Todo ser humano se iguala no momento em que temos consciência dessa imensidão. Por isso, tenhamos em mente, sempre, que nenhum cargo nos diferencia, nos torna mais ou menos importantes, mais ou menos humanos.

Mas a natureza também nos ensina que devemos respeito a todas as vidas que compartilham conosco o planeta. Não somos ilhas, somos interconectados, ainda que artificialmente tenhamos criado fronteiras das mais diversas formas. O respeito à natureza e o respeito aos seres humanos é o que torna a sociedade possível, espero que nos lembremos disso também.

Nós seremos magistradas e magistrados pelos próximos 30, 40 anos. Certamente muita coisa será diferente (e talvez alguma inteligência artificial nos substitua), certo é que sem a manutenção desse solo sagrado onde se ergue a Amazônia e o rio Amazonas, nenhuma forma de vida humana, nenhum projeto de vida, nenhuma dignidade será possível no planeta.

Portanto, tenhamos em mente também que nossas decisões impactarão diretamente o local mais importante da Terra para as presentes e futuras gerações.

Como mulher não poderia deixar de destacar que hoje tomam posse apenas  2 mulheres entre os 10 empossados.

Certa vez, Ruth Bader Ginsburg, uma entre os 9 juízes da suprema corte estadunidense, foi perguntada quando ela consideraria que há mulheres suficientes naquela Corte, ao que ela respondeu: quando houver 9! Considerarei suficiente, portanto, quando houver 10 empossadas (nada contra vocês, meus nobres colegas)!!

Quero nomear especificamente minha colega que hoje toma posse, Rosália Bodnar e as demais colegas aprovadas neste concurso: Iane do Lago Nogueira Cavalcante Reis, Ana Theresa Moraes Rodrigues, Alana Coelho Pedrosa e Luiza Vaz Domingues Moreno.

Que possamos servir de exemplo às mulheres e meninas brasileiras, assim como outras mulheres nos foram exemplos. Nós não somos necessariamente corajosas ou fortes ou qualquer outro adjetivo que se pretenda generalizar… somos plurais, múltiplas e diferentes umas das outras e é justamente por isso, que podemos ser tudo e qualquer coisa.

Por fim, quero agradecer imensamente à generosidade do povo amapaense que, desde o primeiro dia, nos recebeu como só uma mãe recebe um filho que volta pra casa. Sem nunca antes ter pisado aqui, me senti voltando pra casa.

Que Deus, Alá, Buda, Pachamama, o universo… nos abençoe nessa jornada que hoje tem apenas início e que a burocracia e o, muitas vezes enfadonho cotidiano, não nos deixe amargurar nossas decisões.

Obrigada.”




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