A felicidade no olhar de quem volta para casa esconde os dias de sofrimento vividos por Celson Aguiar, de 60 anos, que retornou para Rondônia na terça-feira (5), após nove anos nas ruas de Macapá. Na capital amapaense, ele perambulava há pelo menos um ano pelas vias da cidade, abrigado em portas de bancos e praças. Mas, o destino dele mudou desde que foi apresentado ao Pop Rua Jud, programa do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP).
A iniciativa atende à Resolução n° 425/2021 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de setembro de 2021, que instituiu a Política Nacional Judicial de Atenção a Pessoas em Situação de Rua e suas interseccionalidades. No estado, o Pop Rua Jud é coordenado pelo TJAP, por meio do Grupo de Trabalho, que tem a frente o juiz Marconi Pimenta. Resgatar a dignidade por meio de novas oportunidades é um dos preceitos que norteiam o programa, que garantiu ao seu Celson a oportunidade de escrever um novo capitulo em sua trajetória de vida.
Celson é natural de Bacabal, no Maranhão. E a história dele começou quando foi para Roraima, onde construiu sua família, mas infelizmente o casamento e o emprego não deram certo e ele viveu dias que prefere apagar da memória. Em 2014, houve a separação da esposa. Um ano depois, migrou para o estado do Pará e, em 2022, a capital Macapá se tornou o seu paradeiro.
“Fui para o Oiapoque, fiquei doente, depois fui internado em Santana, não descobri minha doença, passava o dia com a mochila nas costas perambulando. Sou deficiente e não consegui ser inserido no mercado de trabalho, mas consegui atuar em áreas de garimpo como ambulante”, contou o ex- morador de rua.
O pai de três filhos só queria reconquistar tudo aquilo que perdeu e, com lágrima nos olhos, relatou que pensava em sumir e acabar com tudo. Afogava suas mágoas e frustrações no álcool, mas seu alicerce em Deus era maior. E após conhecer o grupo de trabalho do Pop Rua Jud e ser apresentado ao juiz Marconi Pimenta e a servidora pública Georgina Silva, ele viu uma nova chance chegar.
“Estava acostumado a ter a minha casa e o meu lar, mas perdi tudo. Aí conheci o juiz Marconi em um culto. Na doação de kit, pedi ajuda e uma passagem, queria ir embora, voltar para Roraima. E hoje eu estou aqui para agradecer a Deus, ao juiz e Georgina Silva que doou a passagem e a todos que me ajudaram. Eu tenho só a agradecer e vou voltar para os meus filhos”, comemorou.
Para o juiz Marconi Pimenta, o projeto Rede Pop Rua Jud no Amapá se destina a resolver pontualmente a vida de cada uma dessas pessoas em situação de rua.
“Fazemos o mapeamento e identificamos qual a necessidade delas, a do seu Celson, por exemplo, idoso, já adoentado, era voltar para a sua família. Viabilizamos todo esse fluxo para que ele voltasse para casa. Outros terão o mesmo tratamento, mas outros também têm outras dificuldades, outros interesses e necessidades e a gente vai enfrentando unido juntos com parceiros para minimizar esse problema tão grave no nosso país. Estamos furando a bolha e sendo personagens de novas histórias, trabalhando para diminuir esses números” explicou o coordenador do Pop Rua Jud Amapá.
Celson Aguiar embarcou levando no coração a esperança de ter seus laços restabelecidos com sua família e com sua nova vida. Agora ele sabe que nunca é tarde para acreditar no amanhã, porque assim como nas letras de Chico Buarque, ‘Amanhã há de ser outro dia’.
Durante o período em que passou por muitas dificuldades nas ruas, Celson recebeu ajuda do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), unidade de atendimento da Prefeitura de Macapá gerenciado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas). Foi atendido, e durante algum tempo fazia suas refeições na unidade, bem como os cuidados de higiene pessoal, além de receber acompanhamento da equipe multidisciplinar.
O Centro Pop funciona de segunda a sábado, no horário das 8h às 18h, localizado na Rua Ana Nery, S/N, bairro Perpétuo Socorro.