Em 1769, após um extenso período de prejuízos econômicos e de lutas entre mouros e cristãos pela posse da Cidade de Mazagão, no atual Marrocos, o então rei de Portugal, D. José I, resolveu desativar aquela possessão lusitana no Continente Africano (carta régia de 10 de março de 1769) tomando a decisão de transferir sua população para o extremo norte do Brasil. E para receber parte das famílias residentes na antiga Mazagão, foi criada em terras amapaense a Vila de Mazagão ou Nova Mazagão, a margem do rio Vila Nova, atualmente conhecida como “Mazagão Velho. Os servidores do TJAP, Marcelo Jaques de Oliveira – Historiador e Michel Duarte Ferraz - Museólogo contam pra gente um pouco dessa história.
Assim, em 1770, o novo núcleo populacional (elevado à categoria de vila em 23 de janeiro daquele ano) receberia 136 famílias de colonos, de um total de 340 transferidas, os quais trouxeram consigo 103 escravos de origem africana para trabalhar nas lavouras das novas terras, em uma tentativa lusitana de por fim a uma dor de cabeça no Continente Africano e ao mesmo tempo impulsionar a colonização e desenvolver das áreas do extremo norte amazônico.
A história de Mazagão é recheada de dificuldades e conquistas. Em mais de dois séculos e meio de existência sua população já enfrentou epidemias, desabastecimento, fome, insalubridade do terreno, isolamento e descaso dos governantes. É também marcada por momentos de progresso econômico, destacando-se os períodos em que se notabilizou como referência regional na agricultura e na pecuária, na produção cerâmica, na pesca, na extração da borracha e no extrativismo de outros produtos da floresta.
Mazagão também é sinônimo de lutas, como no chamado Movimento da Viradeira (março de1777), em que o povo mazaganense conseguiu se libertar da obrigação de permanecer na hoje Mazagão Velha, transferindo-se assim para uma área considerada menos insalubre e isolada, fundando a Nova Mazagão.
E sem perder de vista que a cidade também é referência cultural em nosso estado, destacam-se aqui as festividades em louvor a São Tiago, realizada em Mazagão Velho, no período de 16 a 28 de julho, que anualmente traz a tona memórias e tradições que remetem aos tempos dos antigos moradores do povoado africano e suas lutas contra os povos islâmicos.
Por tudo isso, na passagem de seu 254º aniversário, prestamos nossa homenagem ao ilustre aniversariante, sem perder de vista a sua importância na história e na formação de nosso Estado e de nossa identidade enquanto amapaense. Que o município de Mazagão continuem prospero e abençoado, e caminhe sempre sob a proteção de São Tiago e de sua ilustre padroeira, Nossa Senhora da Assunção.
Na biblioteca do TJAP podemos encontrar diversas obras que trazem informações sobre Mazagão e outros assuntos relacionados a história do Amapá, dando destaque aqui ao livro: MAZAGÃO: A cidade que atravessou o Atlântico, de Laurent Vidal (VIDAL, Laurent. Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico. São Paulo: Martins Fontes, 2008, 294p.)
Para mais informações e referências sobre esse e outros assuntos relacionados a história da justiça do Amapá, visitar nosso Portal da Memória Institucional, disponível em: https://old.tjap.jus.br/portal/apresentacao-portal-memoria.html
Marcelo Jaques de Oliveira – Historiador
Michel Duarte Ferraz - Museólogo